segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ground 0



Não há decisões racionais. Não é possível pôr tudo e todos que nos rodeia, de lado. Não dá para ver o quadro branco apenas, não dá para pensarmos apenas em nós, mesmo que esteja em jogo "o resto da vida". Que, ao final de contas, é o que acaba por estar sempre em jogo. Mas bem, lá tentamos tirar tudo e todos da cabeça, ouvimos conselhos de um lado, tentamos conhecer as opções disponíveis, pomos tudo dentro da cabeça, pensamos nisto e naquilo, shake it shake it e, voilá!, somos presenteados com uma direcção, com um "é aquilo que eu quero". Mas este "aquilo que eu quero" não é independente de tudo e de todos que nos rodeia. O quadro jamais é branco, vemo-lo pintado como queremos... não fossemos daltónicos, tudo estaria bem. Pensamos que tudo é luz e claridade e vermelho e quente, e "é aquilo que eu quero" para juntar a tudo o sou e a tudo/todos que "tenho", pensamos que tudo é claro quando afinal, visto de fora, as cores perderam o brilho e o calor... somos forçados a acordar e ver um mundo mais cinzento, mais chuvoso, "aquilo que eu quero" não se encaixa aqui, precisa de mais cores, mais brilho, mais luz!, apaga-se a estrela que temos por referência e ficamos desorientados, com "aquilo que pensava querer mas agora já nem sei nem me importa", com uma tela vazia e molhada.
Valha-nos algumas pinceladas mais quentes de quem sabíamos lá estar e se revelou, valha-nos o aconchego de quem nos seca a chuva lacrimal e dá um abraço de força, valha-nos quem valha a pena.
Vai ganhando nova força aquilo que pensávamos querer, até de facto o querermos - uns dias mais outros menos, assim somos, desassossegados e insatisfeitos - até o querermos por nós e para nós, para a nova tela que há-de ser pintada e vista por olhos míopes mas não daltónicos, com cores e texturas de todos os tamanhos, feitios e temperaturas, agradável para o artista e para as estrelas que nos vão aquecendo o corpo e dando alento à alma. O quadro vai-se pintando, bem sei... por enquanto, é branco e vazio de mim demais para deixar alguém tocar-lhe, que não eu.

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1 comentário:

Doctor Spider disse...

E se cada um de nós tivesse a força para ver que as coisas não são assim tão cinzentas?!... E para ver que quem as faz cinzentas para nós não merece, nem vale, uma lágrima nossa; não vale um "quem me dera"; não vale um pensamento que nos desvie do nosso caminho que há-de levar-nos à realização pessoal e à felicidade que tanto desejamos?

"Ground 0" é fim de etapa, é certo. Contudo, e acima de tudo, e muito mais importante, é recomeço!
É renascimento!

Bjis